Alfabetização científica e cidadania

Tatiana Guimarães Lopes
Gestora de projetos socioambientais da Triplaris – Engenharia e Sustentabilidade.
tatiana@triplaris.com.br

Alfabetização científica vem do termo em inglês “science literacy”, que também pode ser traduzido como letramento científico. Esse termo diz respeito ao desenvolvimento do indivíduo para a sua atuação e pertencimento a sociedade, no que diz respeito ao reconhecimento de seus problemas e suas soluções1. A alfabetização científica é um componente essencial à educação do século 21, onde a matemática, a ciência e a tecnologia não interessam só a cientistas, mas a população de uma forma geral, sendo possível através dela, a formação de indivíduos críticos e reflexivos, capazes de entender a si mesmos e a relação que estabelecem com o planeta e os outros seres vivos.

Mas como isso se aplica? Pensemos no nosso cotidiano… Como podemos tomar decisões ou consumir de forma consciente e sustentável se não entendermos as implicações práticas de nossas escolhas?

Reciclar ou não reciclar? Consumir alimentos orgânicos ou convencionais… Transgênicos ou irradiados? Será que o cidadão comum é capaz de fazer essas e muitas outras escolhas de forma consciente?

Fazer compras em um supermercado, por exemplo, é um ato bastante corriqueiro, que envolve muita ciência e que tem sua importância muitas vezes desapercebida para a maioria das pessoas. Conduzo essa reflexão a partir da minha experiência profissional na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, onde tive a oportunidade de participar de ações socioambientais propostas por uma empresa contratante, onde buscava-se esclarecer a população através de oficinas sobre a natureza de alguns alimentos. Constatei através desse projeto que os participantes não sabiam em sua maioria, o que consumiam e as implicações de suas escolhas alimentares em relação a sua saúde, bem-estar e qualidade de vida.

Notei nessas oficinas, que era muito comum mães oferecerem a seus filhos, bebidas industrializadas com alto teor de açúcar, como é o caso do néctar, pensando estarem ofertando sucos naturais, com as propriedades nutritivas e os benefícios próprios a saúde desses produtos. Percebi também a surpresa dessas mães ao serem esclarecidas sobre o teor de açúcar do néctar e a disposição ao saberem disso, de não mais consumirem ou oferecerem esse tipo de alimento a suas famílias.

Os fabricantes de bebidas só podem chamar de suco integral os produtos que contenham somente o suco da fruta. Já o néctar de frutas, mais comum nas prateleiras dos supermercados que o suco integral, pode conter entre 30% e 50% de polpa de frutas e ter açúcar adicionado a sua composição. Há, portanto, diferenças nos ingredientes e no processamento dessas bebidas, que não são conhecidas pela maioria da população.
Um dos objetivos de se promover a alfabetização científica é contribuir para que a sociedade amplie seus conhecimentos e exerça escolhas de consumo mais conscientes, podendo nesse caso, desencadear exigências que resultem na comercialização de produtos que levem em consideração questões relacionadas a saúde humana. Nesse sentido, a cidadania envolve intervenções e transformações sociais que só podem ser implementadas e exercidas plenamente através do conhecimento.

Referências:

1Sasseron, L. H. Alfabetização científica, ensino por investigação e argumentação: relações entre ciências da natureza e escola. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 17, n. spe, p. 49-67, Nov. 2015. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-21172015000400049&lng=en&nrm=iso>. access on 10 June 2016. http://dx.doi.org/10.1590/1983-2117201517s04.

2018-11-14T00:02:21+00:00