Sustentabilidade: Engajando e cuidando dos stakeholders do futuro

Tatiana Guimarães Lopes
Gestora de projetos socioambientais da Triplaris – Engenharia e Sustentabilidade.
tatiana@triplaris.com.br

Há muito tempo venho observando com esse novo jeito de brincar das crianças. Tenho a impressão de que estão menos atentas e dispostas a exploração, presas a objetos prontos e ao excesso de estímulos tecnológicos. Na minha infância me recordo de observar as formigas no jardim e sempre estar curiosa, interessada naquele vai e vem incessante. Quando encontrava uma joaninha a colocava entre as mãos e ficava observando seus movimentos, suas cores e pintas. Ouvia também com atenção o barulho das cigarras e dos grilos. Tudo era motivo de investigação e muitas perguntas surgiam e eram compartilhadas com os adultos que se esforçavam em me explicar o mundo que eu estava começando a desvendar.

Essas lembranças me fizeram refletir sobre como o contato com a natureza poderia ser benéfico às crianças e quais competências poderiam ser desenvolvidas em benefício delas próprias, da sociedade e do ambiente. A partir disso, pesquisei mais sobre o assunto e descobri a preocupação de diversos cientistas sobre o chamado “déficit de natureza”, onde crianças menos expostas ao meio natural poderiam estar mais propensas a desenvolverem problemas como obesidade, diabetes, déficit de atenção, ansiedade e doenças autoimunes1,2,3. Outros estudos consultados também correlacionavam a falta de experiências na natureza durante a infância com uma menor preocupação com o ambiente na fase adulta4,5,6.

As soluções para os problemas ambientais incluem a implementação de um estilo de vida mais sustentável, e para isso, o papel da educação é fundamental tanto no caso das crianças, como em relação a formação inicial e continuada de seus professores.

No caso das crianças, a alfabetização científica deve tornar possível, a vivência da ciência, de forma integrada, participativa e lúdica, considerando especificidades características de cada faixa etária, como formas de pensar, interagir, ser e estar no mundo, suas lógicas e necessidades7. Nesse sentido, da mesma forma que uma mãe pode levar o conhecimento previamente adquirido a seu filho, a alfabetização científica quando aplicada a criança pode atingir também a sua família, ocasionando a sua valorização enquanto indivíduo perante o núcleo familiar e aumentando a sua autoestima8.

Considero que o aprender deve ser compreendido pelas crianças de forma positiva, para que carreguem consigo durante seu desenvolvimento e vida adulta, a vontade de buscar conhecimentos diversos e usá-los de forma prática e criativa para o seu próprio bem-estar e da sociedade. Dessa forma, é importante chamar a atenção das crianças, para que observem e compreendam os processos tecnológicos e os fenômenos naturais, desenvolvendo a empatia em relação a outros seres vivos e para o exercício de práticas mais sustentáveis, resultando no futuro, em um maior respeito e cuidado com a sociedade e o ambiente.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU) criou em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que definem prioridades e aspirações para a eliminação da pobreza e para a implementação de uma trajetória global sustentável até o ano de 2030. Considero que as crianças de hoje serão os “stakeholders” dos projetos futuros e por tanto, investimentos em ações de educação ambiental no presente, certamente contribuirão para o cumprimento dos ODS, além de proporcionarem um melhor desenvolvimento físico e emocional das mesmas.

Referências:

1. Warber SL, DeHudy AA, Bialko MF, Marselle MR, Irvine KN. Addressing “Nature-Deficit Disorder”: A mixed methods pilot study of young adults Attending a wilderness camp. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine. 2015; 2015:1-13.
2. McCurdy LEM, Winterbottom KE, Mehta SS, Roberts JR. Using Nature and Outdoor Activity to Improve Children’s Health. Current Problems in Pediatric and Adolescent Health Care. 2010; 40(5):102-117.
3. Grönroos M., Parajuli A., Laitinen O.H., Roslund MI., Vari HK., Hyöty H., Puhakka R., Sinkkonen A. Short-term direct contact with soil and plant materials leads to an immediate increase in diversity of skin microbiota. Microbiologyopen. 2018 May 29:e00645. doi: 10.1002/mbo3.645. [Epub ahead of print] 4. Chawla, L. Significant Life Experiences Revisited: A Review of Research on Sources of Environmental Sensitivity. The Journal of Environmental Education, v. 29, n. 3, p. 11-21 , 1998
5. Cheng, J.C., MONROE, M.C. Connection to nature: Children’s affective attitude toward nature. Environment and Behavior, v. 44, p. 31–49, 2012.
6. Broom, C. Exploring the Relations Between Childhood Experiences in Nature and Young Adults’ Environmental Attitudes and Behaviours. Australian Journal of Environmental Education, v. 33, n. 1, p. 34-47, 2017.
7. Marques, A.C.T.L., Marandino, Ma. Alfabetização científica, criança e espaços de educação não formal: diálogos possíveis. Educ. Pesqui., São Paulo , v. 44, e170831, 2018 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022018000100431&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Mar. 2018. Epub Dec 21, 2017. http://dx.doi.org/10.1590/s1678-4634201712170831.
8. Mata, P. et al . Cientistas de palmo e meio: Uma brincadeira muito séria. Aná. Psicológica, Lisboa , v. 22, n. 1, p. 169-174, marzo 2004 . Disponible en <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312004000100015&lng=es&nrm=iso>. accedido en 10 mayo 2016.

2018-11-14T00:00:31+00:00