Tatiana Guimarães Lopes
Gestora de projetos socioambientais da Triplaris – Engenharia e Sustentabilidade.
tatiana@triplaris.com.br

Se uma empresa depende da natureza para o seu sucesso, pressupõe-se que essa deva pensar nos recursos naturais como parte do seu capital, já que a escassez desses recursos pode impactar negativamente a sua atividade econômica. Apesar dessa premissa ser de fácil entendimento, o que observamos na prática é que normalmente as empresas ou seus gestores ainda não estão habituados a contabilizarem os recursos naturais em seus ativos e projetos por muitas vezes desconhecerem o impacto desses, em seus negócios.

A Polinização é um exemplo de capital natural que pode afetar drasticamente as atividades econômicas e exercer impactos sociais relevante, principalmente quanto a produção de alimentos. Dentro desse contexto as abelhas destacam-se por oferecerem um serviço ecossistêmico essencial tanto em ambientes naturais, como nos agrícolas, favorecendo a manutenção das populações vegetais selvagens e a produção de alimentos. Estima-se que esse serviço ecossistêmico aumente em aproximadamente 35% o rendimento e a qualidade das culturas em todo o mundo1.

Apesar disso, o desmatamento, o uso indiscriminado de pesticidas, a competição com espécies exóticas por recursos florais e as mudanças climáticas, são apontadas como as principais causas para o desaparecimento desses insetos na natureza2. Mas o que fazer para que esse e outros serviços ecossistêmicos estejam no radar não só do mundo corporativo, mas da sociedade em geral? A valoração do capital natural pode ser um recurso utilizado para isso, através dos critérios de Dependência, Impacto e Externalidades3.

No caso da polinização se um fruticultor não tiver mais disponível em sua propriedade esse recurso natural e se desejar manter a produtividade em sua propriedade, terá por exemplo, que arcar com os custos de uma polinização manual ou do aluguel de colmeias, a partir do grau de dependência da sua cultura em relação as abelhas. Nesse caso uma empresa beneficiadora de alimentos que adquira frutas desse produtor, terá que contabilizar também em seus custos o aumento do preço da sua matéria prima em função da perda do capital natural. Nesse sentido, considera-se que as corporações devem buscar uma maior compreensão e aprimoramento das relações com os serviços ecossistêmicos, no que diz respeito à gestão de projetos.

O levantamento de informações quantitativas sobre os serviços ecossistêmicos para a tomada de decisões em negócios nem sempre é fácil, mas se faz necessária para que as empresas tenham uma visão integral das atividades que exercem e de suas implicações ambientais, sociais e econômicas. O investimento em projetos socioambientais também pode contribuir para a divulgação da importância dos serviços ecossistêmicos para os negócios e para o bem-estar da sociedade. Tanto as empresas, como o poder público podem atuar nesse sentido, proporcionando meios para o esclarecimento da população em geral e principalmente das crianças, através de projetos que envolvam a educação ambiental e a alfabetização cientifica.

Referências

1Melin, A.; Rouget, M.; Midgley, J. 2014. Pollination ecosystem services in South African agricultural systems. South African Journal of Science 110: 11-12.
2IPBES. 2016. The assessment report of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services on pollinators, pollination and food production. Disponível em: https://www.ipbes.net/assessment-reports/pollinators. Acesso em 21/08/2018.
3Fundação Getulio Vargas [FGV] – Centro de Estudos em Sustentabilidade [GVces]. Diretrizes Empresariais para Valoração Econômica de Serviços Ecossistêmicos (Devese 2.0 – 2017). Disponível em: <http://www.tendenciasemse.com.br/ferramenta-de-calculo-2/?locale=pt-br>. Acesso em: 26 abr. 2018.